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Zona cinza: a classe média no meio da catástrofe

“Como perceber a catástrofe que vivemos cotidianamente? Essa é a pergunta que move o livro de Victor Hermann. Estamos atravessando um momento histórico de grandes transformações no mundo, em que os desastres ambientais se acumulam e aumentam de tamanho intensidade, a ameaça de ações terroristas impõe uma paranoia crescente, e as desigualdades sociais se tornam abissais. E enquanto as big techs formam gigantescos monopólios que, por meio do ciberespaço, controlam não apenas a economia do mundo, mas também nossos afetos e relações interpessoais, o regime do algoritmo promove uma nova forma de “seleção natural”, alicerçada pelos valores de autoafirmação individual, segundo os quais o “espírito do capitalismo” – turbinado nos tempos pós-fordistas – comunga com o evangelho protestante e pentecostal. Na base de tudo, os laços coletivos e comunitários se desagregam diante do empreendedorismo triunfante, que desenha uma sociedade uberizada.

 

Ocorre que essas grandes transformações não são autoevidentes. Ao contrário, parecem estar permanentemente escamoteadas por trás de uma aparência de normalidade. Em outros momentos da história, a humanidade já se percebeu como estando no centro de um grande furacão revolucionário. Mas agora não. Há uma espessa camada cinzenta que borra nossa visão, embota nossos sentidos, ameniza a tragédia em curso e nos torna dóceis, apáticos e conformados. Essa é a “zona cinza” definida por Hermann partindo de uma bela definição de Primo Levi.

 

Assim, essa zona, segundo o autor, captura a nossa criatividade para que percebamos a vida capitalista do consumo total como natural e inelutável. Inserido no campo dos estudos culturais, com foco nas artes visuais e na literatura, a obra elabora finas análises sobre o estado atual do mundo a partir, por um lado, da teoria crítica avançada, mas também – e sobretudo – da rente leitura de trabalhos de arte, num espectro vertiginoso que abarca figuras como Henrik Ibsen, Anselm Kiefer, Lars Von Trier, Bong Joon-ho, Olafur Eliasson, Clarice Lispector, Don DeLillo, Thomas Pynchon, Pierre Huygue, Chris Burden, Harun Farocki e W. G.Sebald, entre outros.

 

Se, como mostra Isabelle Stengers, vivemos “no tempo das catástrofes”, é preciso que essa violência se explicite. E que, dessa forma, o sentimento geral de desresponsabilidade perante a destruição total seja desmascarado, exigindo de todos nós novos compromissos.”
 

GUILHERME WISNIK
Professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP

Zona cinza: a classe média no meio da catástrofe

R$79,90Preço
  • Autor(a)

    Hermann, Victor

  • Editora

    Relicário

  • Páginas

    356

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