O narrador de Brancura, do norueguês Jon Fosse, ganhador do Nobel de Literatura 2023, se propõe uma estratégia mental para tolerar a incerteza e a incompreensão da situação em que se vê: "se agora tenho que me manter longe de alguma coisa, é de metáforas."
E faz sentido: se a escuridão é capaz de aumentar nossos medos e criar fantasmas, uma boa tática para encará-los talvez seja se afastar de metáforas como esta, que, em momentos de angústia, tendem a se apresentar piores do que a realidade.
Nesse fluxo de consciência intenso, aprisionante e ritmado a ponto de parecer orações meditativas, o narrador se vê imerso numa floresta ao fim do outono nórdico, ou seja, já sob muita neve. Perdido e sem entender as pessoas conhecidas e as desconhecidas, os seres e as entidades que lhe aparecem, o homem descreve sua angústia com o desconhecido na tentativa de encontrar o caminho de volta (ou o caminho para ir em frente).
Ao contrário do que se propõe o narrador, Brancura é todo numa grande metáfora, possibilitando ao leitor criar suas próprias relações de equivalência. Durante a leitura, me transportei ora para sessões de terapia relatando sonhos, ora para uma sala cirúrgica, na fronteira entre a vida e a morte, sob intensa e focal iluminação branca.
É muito difícil relacionar livros semelhantes a este Brancura, dada a inovação dessa narrativa rápida (de apenas 60 páginas) e ritmada. Mas em se tratando de fluxos de consciência de maiores fôlego e complexidade, eu citaria Todos os Nomes de José Saramago, Angústia de Graciliano Ramos e A Paixão Segundo G.H. de Clarice Lispector, embora cada um deles contenha enredo completamente distinto.
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Marcelo Titton
livreiro da Baleia
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