Marcelo Titton
- 7 de jun.
- 2 min para ler

O novo do Gabo

Antes de mais nada, é preciso dizer que este "novo livro" de Gabriel García Márquez está envolto em contradições.

Gabo estava com idade avançada e já apresentava dificuldades com a memória e o raciocínio, mas foi taxativo sobre seu texto: "Este livro não presta, tem que ser destruído". Seus filhos, no entanto, não o fizeram. E um pouco antes de completar 10 anos da morte do pai, decidiram publicá-lo. Suas razões para tal desobediência constam no prefácio de Em agosto nos vemos, que chega o Brasil pela editora Record.

Eu, particularmente, discordei de Gabo: achei uma delícia ler a história de Ana Magdalena, uma mulher casada, perto dos 60 anos, que viaja sozinha a uma ilha caribenha todos os anos, no mês de agosto, com a desculpa de visitar o túmulo da mãe. Mas o real motivo das viagens anuais é outro: viver paixões furtivas ao acaso, longe do marido e da família.

No plano original de Gabo, Em agosto nos vemos seria o primeiro de cinco contos que comporiam um próximo livro. "Histórias de amor de gente mais velha", como ele definiu, todos com a mesma protagonista.

A edição brasileira traz, além do prefácio escrito pelos filhos, um texto do editor Cristóbal Pera, que acompanhou as idas e vindas do texto original e suas diferentes versões, além de quatro páginas de fac-símiles do original com várias anotações à mão do próprio Gabo. Portanto, independentemente do juízo moral que se faça sobre a polêmica em torno da publicação, vale muito a pena ler Em agosto nos vemos.

Quem quiser saber mais sobre o livro póstumo, recomendo a matéria de capa da edição de março da revista Pernambuco: A última aventura amorosa.

Lembrei também de outra obra interrompida pela morte do escritor: Alabardas, alabardas, espingardas, espingardas de José Saramago. Quanto ao enredo, não me ocorreu nada na mesma linha de "histórias de amor de gente mais velha", mas perguntei à Nanni, minha colega livreira aqui da Baleia, e ela sugeriu O jovem de Annie Ernaux.